Lembro-me claramente da vez em que acompanhei uma amiga abrir sua primeira empresa: ela tinha uma ideia brilhante, mas parecia afogada em termos, formulários e prazos. Na minha jornada como jornalista e consultora para empreendedores, aprendi que a constituição de empresas é tão técnica quanto humana — envolve papelada, sim, mas também escolhas que moldam o futuro do negócio. Depois de várias aberturas acompanhadas — de um salão de beleza MEI a uma software house LTDA — vi padrões, erros comuns e caminhos práticos para transformar a vontade de empreender em uma empresa de verdade.
Neste artigo você vai entender, de forma prática e direta, o que é a constituição de empresas, quais são as principais modalidades jurídicas, os passos essenciais para abrir uma empresa no Brasil, custos aproximados, documentos necessários e como escolher o regime tributário ideal. Vou também dar dicas reais que já usei com clientes e indicar fontes oficiais para você conferir cada etapa.
O que significa “constituição de empresas”?
Constituir uma empresa é o processo formal de registrar uma atividade econômica para que ela exista legalmente. É obter personalidade jurídica (ou formalizar o empreendedor), registrar o CNPJ, cumprir obrigações municipais e estaduais e escolher como você será tributado.
Basicamente, é transformar uma ideia em uma entidade reconhecida pela lei — e isso abre portas: emitir notas fiscais, contratar funcionários, acessar crédito e vender com segurança.
Principais tipos jurídicos (explicados de forma simples)
Escolher a natureza jurídica é uma das decisões mais importantes — ela afeta responsabilidade, tributos e governança. Vou resumir as mais comuns:
- MEI (Microempreendedor Individual): ideal para quem fatura pouco (ver limite atual no Portal do Empreendedor). Abrir é rápido e tem tributação simplificada. (Veja: https://www.gov.br/empresas-e-negocios/pt-br/empreendedor)
- Empresário Individual (EI): pessoa física que exerce atividade empresarial; a responsabilidade pode ser ilimitada.
- Sociedade Limitada (LTDA): muito usada por pequenas e médias empresas; divisão de quotas e responsabilidade limitada ao capital social.
- Sociedade Anônima (S.A.): para empresas maiores que desejam emitir ações; regras mais complexas e fiscalização mais intensa.
- Sociedade Unipessoal (Limitada Unipessoal): permite que uma única pessoa constitua uma limitada, sem sócios, preservando a limitação da responsabilidade.
Passo a passo prático para a constituição de empresas
Vou listar o fluxo típico que sigo com quem assessoro. Em cada etapa eu recomendo checar a Junta Comercial do seu estado ou a prefeitura local — requisitos e prazos variam.
1. Planejamento inicial
- Defina atividade (CNAE), público e estimativa de faturamento.
- Escolha o tipo jurídico (MEI, LTDA, etc.) e o regime tributário (Simples Nacional, Lucro Presumido, Lucro Real).
2. Consulta de viabilidade e nome empresarial
Verifique se o endereço comercial permite a atividade (na prefeitura) e se o nome pretendido está disponível na Junta Comercial.
Contrato social (para LTDA) precisa ser bem escrito: objeto social, quotas, responsabilidades e administração. Para MEI, o processo é simplificado e online.
4. Registro na Junta Comercial e obtenção do NIRE
Registro formal do contrato gera o NIRE (Número de Identificação do Registro de Empresas).
5. Solicitação do CNPJ na Receita Federal
Com NIRE, pede-se o CNPJ. Após a concessão, você já tem a identidade fiscal da empresa. (Fonte: Receita Federal — https://www.gov.br/receitafederal/pt-br)
6. Inscrições estaduais e municipais
Se a atividade exigir ICMS (comércio/indústria), faça inscrição estadual. Para prestação de serviços, inscreva-se no município e peça o Alvará de Funcionamento.
7. Licenças e alvarás específicos
Atividades como alimentação, saúde ou educação exigem autorizações da Vigilância Sanitária, Corpo de Bombeiros ou órgãos setoriais. Não esqueça dessas etapas — atrasos aqui são comuns e custam caro.
8. Abertura de conta bancária empresarial e sistemas de emissão de notas
Com CNPJ e contrato, abra conta PJ e configure emissão de notas fiscais eletrônicas conforme exigência do município ou Estado.
Documentos básicos que normalmente são exigidos
- Documentos pessoais dos sócios (CPF, RG, comprovante de endereço).
- Contrato social assinado e reconhecido (ou NIRE/inscrição para MEI).
- Comprovante de endereço da sede (aluguel ou escritura).
- Formulários e requerimentos específicos da Junta Comercial.
- Alvarás e licenças exigidos por atividade.
Regimes tributários: como escolher sem drama
Existem três grandes regimes: Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. A escolha depende de faturamento, margem de lucro e tipo de atividade.
- Simples Nacional: unifica impostos em parcela única, indicado para micro e pequenas empresas (faixas de faturamento específicas). É a escolha padrão para quem quer simplificação.
- Lucro Presumido: tributa com base em uma margem presumida de lucro — pode ser vantajoso para empresas com margens altas.
- Lucro Real: tributa sobre o lucro efetivo; obrigatório para algumas empresas e indicado quando há muitas despesas dedutíveis.
Dica prática: consulte um contador antes de decidir. Na minha experiência, uma escolha errada no começo pode custar muito tempo e dinheiro depois.
Custos e prazos aproximados
Os valores variam por estado e complexidade do negócio, mas dê uma olhada nessas estimativas práticas:
- Taxas de registro e Junta Comercial: dependendo do estado, podem variar de poucas dezenas a alguns centenas de reais.
- Contabilidade: SP/GRandes centros — mensalidades entre R$ 200 e R$ 1.000, dependendo do serviço.
- Alvará e licenças: dependendo da atividade, podem gerar custos variáveis (taxas, adequações físicas).
- Tempo médio: MEI — minutos a horas (online). LTDA — de alguns dias a algumas semanas, dependendo de documentação e licenças.
Erros comuns que eu já vi (e como evitar)
- Escolher o CNAE errado: pode impedir emissão de nota ou exigir alvarás extras. Consulte um contador para a classificação correta.
- Subestimar licenças municipais e ambientais: planeje visitas e prazos com antecedência.
- Negligenciar o contrato social: cláusulas mal escritas geram conflitos entre sócios.
- Ignorar o regime tributário adequado: avalie cenários financeiros antes de optar.
Checklist rápido: o que fazer hoje
- Escolha o nome e verifique disponibilidade na Junta Comercial.
- Defina a atividade (CNAE) e faça consulta de viabilidade na prefeitura.
- Procure um contador e peça uma simulação de regimes tributários.
- Prepare documentos pessoais e comprovantes de endereço.
- Verifique se precisa de licenças setoriais (Vigilância, Corpo de Bombeiros).
Perguntas frequentes (FAQ)
Quanto tempo leva para abrir uma empresa?
Depende do tipo: MEI pode ser imediato; LTDA varia de dias a semanas, dependendo de alvarás e da rapidez da Junta Comercial e prefeitura.
Preciso obrigatoriamente de um contador?
Para MEI não é obrigatório, mas para LTDA e outras sociedades a contabilidade é essencial. Um contador evita erros fiscais e ajuda na escolha do regime tributário.
MEI é sempre a melhor opção?
Não. MEI tem limites de faturamento e restrições de atividades. Serve para muitos microempreendedores, mas empresas com crescimento projetado ou sócios não cabem no MEI.
Quais licenças posso esquecer e me arrepender depois?
Papéis de vigilância sanitária (alimentos, estética), corpo de bombeiros e alvará municipal costumam ser cruciais. Verifique antes de iniciar operações.
Conclusão rápida
A constituição de empresas é uma mistura de planejamento estratégico e execução burocrática. Com informação correta, ajuda profissional e planejamento, você reduz riscos e acelera o crescimento. Lembre-se: o processo técnico é importante, mas a clareza sobre seu modelo de negócio é o que fará sua empresa prosperar.
FAQ final e chamada para ação
Se você está começando: qual é a sua maior dúvida sobre abrir empresa? Se já passou por isso: qual foi o maior desafio? Compartilhe nos comentários e vamos construir esse conhecimento juntos.
Fonte de referência utilizada: Sebrae — conteúdos e guias práticos sobre abertura de empresas (https://www.sebrae.com.br). Também consulte a Receita Federal para informações sobre CNPJ e Simples Nacional (https://www.gov.br/receitafederal/pt-br).
Jornalista e Redator do Concursos Brasil 2021